Dificuldade de atenção e hiperatividade: conheça o TDAH

Dr. Tiago Costa • abr. 14, 2022

O que é o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade)?

O TDAH é uma condição neuropsiquiátrica que afeta pré-escolares, crianças, adolescentes e - inclusive - adultos. Trata-se de um transtorno marcado pelo padrão de prejuízo sustentado no nível de atenção e um aumento na impulsividade ou hiperatividade, podendo haver uma apresentação predominantemente desatenta, predominantemente hiperativa/impulsiva ou uma forma combinada.


Diversas regiões cerebrais estão envolvidas na origem do TDAH, porém os estudos atuais mostram um papel mais importante das conexões do córtex pré-frontal com outras regiões cerebrais que participam da atenção, da inibição, das tomadas de decisão, da inibição a respostas, do trabalho de memória e da vigilância.


O principal neurotransmissor (substância que atua nas comunicação entre os neurônios) relacionado é a dopamina, mas a noradrenalina também parece contribuir para a gênese do transtorno.


O TDAH é uma condição comum, afetando cerca de 5 a 6% das crianças em idade escolar e cerca de 3% dos adultos. Além de comum, também aumenta o risco para o desenvolvimento de outros transtornos como:

  • Transtorno da aprendizagem
  • Transtorno de ansiedade
  • Transtorno do humor
  • Transtorno do comportamento disruptivo


Como muitos transtornos do neurodesenvolvimento, o TDAH é mais comum em meninos, em uma proporção até 9 meninos para cada uma menina. Com frequência, os sintomas de crianças com TDAH surgem aos 3 anos de idade, mas o diagnóstico costuma ser dado na época do jardim de infância ou na idade escolar.

Quem tem parente com TDAH tem maior risco de ter o transtorno?

Sim. Em pais e irmãos de crianças com o transtorno, a incidência é 2 a 8x maior que na população em geral. Os dados existentes indicam que o TDAH é basicamente genético, com uma hereditariedade de cerca de 75% !

Quais as condições ambientais que podem promover o surgimento do TDAH?

Se a hereditariedade (componente genético) do TDAH é de 75%, então significa que cerca de 25% dos casos vão ter contribuição significativa de fatores ambientais. As taxas de incidência de TDAH costumam ser mais altas em crianças prematuras e cujas mães tiveram infecções durante o período de gestação.


Condições que provocam dano ao cérebro na fase inicial da infância, seja por infecção, inflamação ou trauma, podem ser fatores que também contribuem para o surgimento dos sintomas. Não menos importante, abuso crônico grave, maus-tratos e negligência estão associados a determinados sintomas comportamentais que se sobrepõem ao TDAH, incluindo falta de atenção e controle precário dos impulsos.

Como é dado o diagnóstico de TDAH?

O diagnóstico do TDAH é essencialmente clínico, por meio dos critérios diagnósticos do DSM-5-TR. Escalas como a SNAP-IV para crianças e a ASRS-18 para adultos podem ajudar o médico a dar o diagnóstico. Eventualmente, é necessário um teste neuropsicológico (realizado com psicólogo em várias sessões) para dar mais informações sobre o grau de prejuízo que a pessoa apresenta em termos de cognição, habilidades, etc.

ASRS-18

Quais características chamam a atenção para TDAH na criança?

Em geral, as crianças com TDAH costumam agir de maneira impulsiva, são instáveis sob o ponto de vista emocional, são explosivas, não conseguem manter o foco e são irritáveis.


De uma forma geral, crianças com TDAH podem apresentar:

  • Hiperatividade.
  • Impulsividade:
  • agir antes de pensar.
  • mudanças súbitas de atividade.
  • falta de organização.
  • dar pulos na sala de aula.
  • Déficit de atenção.
  • Déficit de memória.
  • Distração.
  • Incapacidade para concluir tarefas.
  • Incapacidade de aprendizagens específicas.
  • Deficiências na fala e na audição.
  • Instabilidade emocional.
  • Engajamento rápido, mas pouca consistência.
  • Dificuldade de esperar sua vez.
  • Maior suscetibilidade a acidentes.
  • Comportamentos de agressão e desafio.

Como o TDAH costuma se apresentar nos adultos?

Historicamente, acreditava-se que o TDAH fosse uma condição infantil que levava ao prejuízo no desenvolvimento do controle de impulsos, e isso seria superado na adolescência na maioria dos casos.

 

Contudo, cada vez mais tem havido a identificação de uma quantidade muito maior de adultos diagnosticados com TDAH e tratados com sucesso.

  • Até 60% das crianças com TDAH apresentaram melhoras persistentes nos sintomas durante a vida adulta.
  • As outras 40% persistem sintomáticos na fase adulta, com graus de prejuízos variados.

 

Nos adultos, o transtorno costuma ser diagnosticado por autorrelato. Portanto, é muito mais difícil fazer um diagnóstico preciso do que na infância. O diagnóstico de TDAH é bastante provável nas situações em que os sintomas de desatenção e/ou impulsividade foram descritos por indivíduos adultos como um problema que tiveram a vida toda, e não como eventos episódicos!


Em adultos, os sinais do TDAH incluem impulsividade e déficit de atenção, como por exemplo:

  • Dificuldade para organizar e concluir trabalhos.
  • Incapacidade de concentração.
  • Aumento na distração.
  • Tomada rápida de decisões sem pensar nas consequências.

Como é o tratamento do TDAH?

Medicamentos psicoestimulantes:

Psicoestimulantes são a 1ª linha de tratamento do TDAH, pois apresentam maior eficácia e efeitos colaterais mais toleráveis.


Os psicoestimulantes são contraindicados em pacientes com anormalidades e riscos cardíacos conhecidos. Por isso, é importante que sempre se faça uma investigação cardiológica com ECG (eletrocardiograma) antes de iniciar essas medicações.


Os medicamentos estimulantes têm efeitos adrenérgicos e podem provocar elevações moderadas na pressão arterial (PA) e na frequência cardíaca (FC). Recomenda-se, então, que seja verificado rotineiramente estatura, peso, PA, FC e que seja realizado um exame físico anual em crianças e adolescentes que estejam em tratamento com estimulantes.


Atualmente, a disponibilidade dos psicoestimulantes no Brasil são:

  • Metilfenidato de liberação curta (Ritalina®) ou de liberação sustentada (Ritalina LA®, Concerta®).
  • Lisdenxanfetamina (Venvanse®)

Medicamentos não estimulantes:

Outras medicações podem ser tentadas para o tratamento do TDAH naqueles pacientes que não toleram o uso de psicoestimulantes, naqueles em que a medicação não está recomendada, naqueles em que há necessidade de potencializar o tratamento ou tratar sintomas específicos. Exemplos incluem a clonidina, bupropiona, modafinila e até antipsicóticos como a risperidona, devendo ser indicada somente por profissionais que tenham experiência no tratamento desses pacientes.

Intervenções não farmacológicas:

As intervenções psicossociais em crianças com TDAH incluem modalidades como:

  • Psicoeducação.
  • Habilidades de organização acadêmica.
  • Reabilitação.
  • Treinamento parental (foco em ajudar os pais a desenvolver intervenções comportamentais possíveis).
  • Modificação comportamental na sala de aula e em casa.
  • TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental).
  • Treinamento em habilidades sociais.

 

A melhor estratégia de intervenção é a associação de tratamento farmacológico + terapia comportamental.

Fonte:

  1. Sadock BJ, Sadock VA, Ruiz P. Compêndio de Psiquiatria: Ciência do Comportamento e Psiquiatria Clínica. 11th ed. Porto Alegre: Artmed; 2017.
  2. Stahl, Stephen M.. Fundamentos de Psicofarmacologia de Stahl: Guia de Prescrição, 6ª Edição.

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Sobre mim ...

Médico Psiquiatra, cristão, casado, pai da Marina, fotógrafo nas horas vagas e pensador constante. Gosto de compartilhar conhecimento, pois acredito que assim aprendo mais e ainda participo do crescimento de outras pessoas. Não perco uma corrida do MotoGP e perco quase todos os jogos do Ceará, mas ainda me considero torcedor praticante =)


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