Recentemente, o CFM (Conselho Federal de Medicina) restringiu ainda mais o uso de esteroides anabólicos androgênicos (EAA), proibindo, por exemplo, a indicação de testosterona para fins estéticos ou ganho de desempenho.
Medidas como essa visam frear o uso indiscriminado da substância, que, apesar de serem naturais, não são inócuas quando mal indicadas, principalmente em doses suprafisiológicas (acima do que nosso organismo normalmente produz).
O uso de EAA, especialmente quando utilizado de forma inadequada ou sem supervisão médica, podem levar a várias complicações psiquiátricas.
Os EAA incluem a
testosterona
e seus
análogos sintéticos (produzidos intencionalmente a partir do composto original), que são modificados para potencializar seus efeitos anabólicos, que incluem síntese de proteínas, crescimento muscular e aumento da produção de glóbulos vermelhos, permitindo que os usuários aumentem o tamanho dos músculos e reduzam a gordura corporal.
Os EAA podem afetar o sistema nervoso central de várias maneiras, influenciando funções neuronais e modulando a expressão de diversos neurotransmissores. Esses efeitos envolvem áreas cerebrais associadas à depressão, estresse, raiva e comportamento sexual.
As complicações psicopatológicas associadas ao uso de EAA são uma grande preocupação para médicos e podem incluir sintomas maníacos, mistos, depressão e até mesmo suicídio.
Doses suprafisiológicas estão relacionadas a alterações de humor, como episódios depressivos, hipomania e mania. É mais comum que sintomas maníacos ocorram durante o uso da substância (56%) enquanto os sintomas depressivos ocorrem mais frequentemente durante a retirada (40%)
O abuso de substâncias em geral é um
fator de risco para o suicídio, e o uso de EAA não é exceção. Diversos estudos e relatos apontam para a prevalência de ideação suicida e suicídios consumados entre os usuários dessas substâncias. Acredita-se que o consumo prolongado de EAA possa levar ao desenvolvimento de psicopatologias, aumentando a
suicidalidade
(tendência ao comportamento suicida) em pessoas predispostas.
O uso de EAA em adultos e, principalmente em adolescentes, pode levar ao surgimento ou piora dos sintomas ansiosos. Adolescentes são mais suscetíveis porque suas áreas cerebrais reguladoras do afeto ainda estão em desenvolvimento, ou seja, são mais sensíveis à ação de hormônios e neuromoduladores.
Pode haver aumento significativo de comportamento impulsivo, agressividade, hostilidade e ataques de raiva não provocados. Foi demonstrado que usuários de EAA têm níveis mais altos de alerta, menor tolerância à frustração ou desempenho ruim e perda do controle do impulso.
A típica resposta agressiva, repentina e exagerada induzida por EAA foi denominada "fúria eróide" (do inglês roid rage) para direcionar à ideia de agressividade desproporcional secundária ao uso de esteoide.
Pode ocorrer tanto insônia (distúrbio do sono caracterizado pela incapacidade de adormecer, manter o sono ou ter um sono de qualidade, resultando em problemas no funcionamento diurno) como necessidade reduzida de sono (principalmente no contexto de hipomania / mania).
A abstinência aos EAA geralmente se apresenta com sintomas depressivos, como apatia, anedonia, problemas de concentração, alterações do sono, diminuição da libido, principalmente após uso prolongado.
Muitos desses pacientes se tornam praticamente dependentes do uso crônico, pois se interromperem o uso passam a apresentar sintomas depressivos significativos.
A "psicose esteróide" foi identificada nos anos 70, descrevendo um espectro de psicoses sem apresentação precisa. Os sintomas variam bastante, incluindo psicose secundária a alterações do humor, psicose mais semelhante ao que ocorre nos transtornos psicóticos primários ou até relacionados à síndrome cerebral orgânica.
A relação entre o uso de EAA e psicose ainda não é totalmente compreendida, podendo estar relacionada à vulnerabilidade individual.
Sim. Os EAA têm demonstrado benefícios em várias condições médicas, quando bem indicados. Algumas indicações são:
1. Piacentino, D., Kotzalidis, G. D., Del Casale, A., Aromatario, M. R., Pomara, C., Girardi, P., & Sani, G. (2015). Anabolic-androgenic steroid use and psychopathology in athletes. A systematic review. Current neuropharmacology, 13(1), 101–121.
2. Nelson, B.S., Hildebrandt, T. & Wallisch, P. Anabolic–androgenic steroid use is associated with psychopathy, risk-taking, anger, and physical problems. Sci Rep12, 9133 (2022).
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Sobre mim ...
Médico Psiquiatra, cristão, casado, pai da Marina, fotógrafo nas horas vagas e pensador constante. Gosto de compartilhar conhecimento, pois acredito que assim aprendo mais e ainda participo do crescimento de outras pessoas. Não perco uma corrida do MotoGP e perco quase todos os jogos do Ceará, mas ainda me considero torcedor praticante =)
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