O RDoC se baseia em 3 premissas:

1. Os transtornos mentais são transtornos cerebrais, mais especificamente de circuitos cerebrais.
2. A disfunção dos circuitos cerebrais pode ser identificada com as ferramentas da neurociências clínicas.
3. Os dados genéticos e da neurociências clinicas fornecerão bioassinaturas para sinais e sintomas cujo manejo clinico seria mais preciso.

O método do RDoC, portanto, seria translacional, ou seja, uma "pesquisa científica que objetiva reduzir o distanciamento entre a produção do conhecimento nos laboratórios e a aplicação prática na medicina, nos serviços de saúde, por meio de intervenções inovadoras para a população"³. Sua estratégia foi desenvolver uma matriz para conceber as complexas relações entre os variados níveis e domínios da psicopatologia.

Com o objetivo de identificar os componentes fundamentais da ampla gama de transtornos mentais, o RDoC propõe 7 unidades de análises:

1. genes
2. moléculas
3. células
4. circuitos
5. fisiologia
6. comportamento
7. autorrelatos

Objetivos do NIMH com a materialização do RDoC seriam:

• Identificar os componentes comportamentais fundamentais que podem abranger múltiplos transtornos, como a função executiva, regulação do afeto, percepção, etc.
• Determinar a gama de variação do normal ao anormal desses componentes fundamentais para melhorar a compreensão do que é típico frente ao que é patológico.
• Desenvolver medidas confiáveis desses componentes fundamentais dos transtornos mentais para emprego em pesquisa básica e estudos clínicos.
• Integrar os componentes genéticos, neurológios, ambientais e comportamentais fundamentais que compõem os transtornos mentais.

Apesar das críticas, os defensores do RDoC defendem que, ao priorizar a circuitaria que denominaram "conectomo", conseguiriam explicar componentes afetivos, comportamentais dos transtornos mentais. A premissa é de que, no futuro, a mente poderá ser compreendida através do entendimento dos "mecanismos computacionais" do cérebro.

Os idealizadores do RDoC sugeriram 6 amplos domínios que seriam derivados dos modelos de neurociência cognitiva que tentam identificar os sistemas cerebrais associados às funções mentais básicas, como motivação, cognição, comportamento, etc.

1) Sistemas de valência negativa, que abrangem os circuitos neurais relacionados a:

• Ameaças agudas.
• Ameaças em potencial.
• Ameaças sustentadas.
• Perdas.
• Frustrações pela falta de recompensas.

2) Sistema de valência positiva, que englobam:

• Motivação.
• Resposta inicial a recompensa.
• Resposta sustentada a recompensa.
• Aprendizado por reforço positivo.
• Hábitos.

3) Sistemas cognitivos, que abrangem:

• Atenção.
• Percepção.
• Memória operativa.
• Memória declarativa.
• Linguagem.
• Comportamento cognitivo.

4) Sistemas de processamento social, que incluem:

• Reações de afiliação ou pertencimento (é o engajamento da pessoa em interações sociais positivas com outras pessoas; o pertencimento seria uma consequência da motivação social).
• Conexão.
• Apego (engajamento seletivo do indivíduo com outra pessoa, que ocorre como consequência do desenvolvimento de um contato e ligação social).
• Comunicação social (implica o processo dinâmico de troca de informações socialmente relevantes, com comunicação verbal e não verbal, sendo essencial para manutenção e integração da pessoa em seu ambiente).
• Autopercepção e autoconhecimento (a habilidade em fazer julgamentos sobre os traços, as habilidades e os estados cognitivos e emocionais internos).
• Percepção e compreensão dos outros.

5) Sistemas de ativação/regulação, que envolvem:

• Estimulação.
• Ritmos circadianos.
• Ciclos sono vigília.

6) sistema sensório-motor

Luiz Alberto Hetem, psiquiatra e idealizador do PQU Podcast² argumenta que:

• Com essas ideias e fixações expostas acima, o NIMH instituiu o "reducionismo neural" no modo de exploração da psicopatologia, ignorando diversas linhas da Psiquiatria sobre o papel social na gênese e manutenção dos transtornos mentais.
• O modelo faz "vista grossa" para a ciência de sistemas complexos, com estrutura e hierarquizada, como a defendida por Thomas Fux (episódio 101).
• Assim, de maneira objetiva, o sistema RDoC seria como "uma psiquiatria sem psique, sem alma".
• O reducionismo neural é ambicioso, porém é uma tentativa inválida para explicar sistemas complexos pela simplificação de suas vias causais.

E finaliza dizendo que "O que faz da psiquiatria uma especialidade médica diferente é a descontinuidade que existe no seio do conjunto mente-cérebro. Negá-la não é a solução do problema, mas uma forma de autoengano ]...] A dura realidade é que apesar dos enormes avanços em neurociências, o funcionamento da mente ainda é inacessível, e ao reduzir toda a psicopatologia como intrínseca ao funcionamento cerebral, o RDoC amputa o modelo biopsicossocial dos transtornos mentais".